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Ele ressuscitou e está entre nós!

  • ZENIT
  • 8 de mai. de 2019
  • 4 min de leitura

“Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo; puseste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável. Aleluia!” [1]

Completamos o Tríduo Santo com a Missa da Ressurreição. É verdade que a Vigília Pascal é o fechamento do mistério cristológico de nossa redenção pelo “sacrifício de um para salvação de todos”. Mas a comunidade precisa ser confirmada e fortalecida pelo contato pessoal com o Cristo vencedor[2]. Vamos, agora, em companhia dos discípulos, participar da vitória de Cristo sobre a morte.

O QUE ACONTECE DE NOVO NA RESSURREIÇÃO

O dia da Páscoa é considerado como a festa anunciada por todas as outras festas[3]. É em síntese a festivitatum festivitas (festa das festas)[4]. A duríssima experiência da primeira comunidade, que se encontrava frustrada e decepcionada, via na morte[5] o vazio. Com a morte, a escuridão não fora desfeita e permaneceu o vazio da esperança. Na explicação da Sagrada Escritura deslumbra-se que a comunhão de Jesus Histórico com o Pai não fora desfeita. Nessa comunhão, sem negar a vida terrena e não entender a glorificação, mostrou que o seu amor é “forte como a morte”[6]. A confiança na fidelidade do Pai deu sentido à ambiguidade da existência humana, como rezamos com o salmo: “Minha carne e meu coração podem se consumir, a rocha do meu coração, a minha porção é Deus, para sempre!”[7]. Mas os fracassos humanos fazem parte da história que se renova. E o novo dessa história é a ressurreição, fato inaudito em todas as culturas. Não há experiência em todo o desenrolar da história de alguém que ressuscitou e se fez tangível, palpável, convivesse com os seus. A experiência única é a Ressurreição de Jesus. Ninguém havia falado como ele falou, ninguém havia proclamado com tamanha clareza e intensidade sobre a sua ressurreição, e agora,glorificado em Deus e presente na história, é o testemunho inquestionável de sua verdade estampada na Boa Nova. Queiruga nos leva a um novo contexto sobre a ressurreição: “A conjunção de ambos os fatores – caráter definitivo e experiência de contraste – tornou possível a revelação do novo na ressurreição de Jesus: ele já está vivo, sem ter de esperar pelo fim dos tempos (que de qualquer maneira começaria com ele); e o está na plenitude de sua pessoa, já sem o indício de uma existência diminuída ou obscurecida no sheol. O que se esperava para todos (pelo menos para os justos) no fim dos tempos se realizou nele, que por isso já está exaltado e plenificado em Deus. E com base nessa plenitude – única como único é o seu ser – continua presente na comunidade, reafirmando a fé e impulsionando a história”[8].

NOSSA CATEQUESE

Assumir a ressurreição e todas as suas consequências pressupõe despojamento e coragem para a entrega. Em nossa caminhada, até aqui, houve cruzes, quedas, erguer e continuar. Agora, com a ressurreição, entramos no mistério dos contrastes. Os contrastes não estão no fato da ressureição em si mesmo, mas no relativismo social e temporal. Parte da incompreensão da renúncia de valores temporais que, no contexto da sobrevivência, todos os meios são válidos para atingir o fim. Como sobreviver renunciando os atrativos materiais que estão disponíveis? E mais, os argumentos nem sempre estão na escala de valores morais que já foram corrompidos. Com isso não se vê o novo no contraste da ressurreição. Só podemos entender ressureição quando vivemos o ocasional temporal defrontado com o duradouro, o seguro, o real. É preciso confrontar as atitudes pessoais e individuais em relação ao conjunto de verdades provadas no aspecto de justiça e da moral. O profeta Amós fazia severas advertências àqueles preocupados com a luxúria que se desviaram da justiça e do culto verdadeiro, exteriorizando os sacrifícios sem se mudarem interiormente[9].

A certeza da ressurreição nos é testemunhada pela presença do Senhor no meio dos seus e nos nossos dias. O que esperamos no fim dos tempos já é uma realidade em Cristo. A plenitude da ressurreição de Cristo está presente entre nós, e a vimos na prática do amor, da partilha, da fraternidade concreta, não nos discursos de palavras bonitas nem nas citações bíblicas bem escolhidas, não nas orações inflamadas e emocionadas, não nos abraços das celebrações grupais e fechadas, não no ambiente construído em reuniões restritas, mas nas ruas, nas periferias, nos casebres, nos hospitais, nos presídios, nas repartições de trabalhos, nos drogados, nos lares desfeitos. É preciso ressuscitar nas estradas, nas ruas, na criança rejeitada, no morador de rua. É preciso trocar o ovo de páscoa pelo Cordeiro Glorificado. Do sepulcro não saiu um coelhinho, mas Cristo vencedor da morte.

Viver a experiência do contraste é ter a coragem de mudar para aceitar. A nossa catequese é dirigida de modo especial aos adultos. A celebração litúrgica é sempre o memorial, trazer para o aqui e agora o evento tal como aconteceu. Não é repetir, mas viver intensamente o acontecimento histórico pelo assentimento da fé. Os adultos podem, neste momento pascal, aprofundar a vocação do homem. Não fomos criados para viver no mundo e tudo se acabar no túmulo. Seria um fracasso. Com a ressurreição de Cristo que “continua presente na comunidade, reafirmando a fé e impulsionando a história”, cria-se um grande momento para responder a uma pergunta: eu que sou a imagem de Deus, procuro refleti-la no meio onde estou plantado?

O impulso da história toma um novo rumo a partir da Ressurreição: “O que se esperava para todos (pelo menos para os justos) no fim dos tempos se realizou nele, que por isso já está exaltado e plenificado em Deus”. Hoje a história não é uma apalpadela, uma dúvida, é a certeza de que ela se concretiza com a exaltação em Cristo na sua glória.

[1] Antífona de entrada da missa do dia da ressurreição

[2] Cf. Lc 24, 13ss

[3] São Leão Magno, Serm. 9, 3 (De Passione)

[4] São Gregório Naziazeno, Oratio 42

[5] Lc 24,21

[6] Ct 8,6

[7] Sl 73,26

[8] Andrés Torres Queiruga, Repensar a Ressurreição, Paulinas 2004, p. 267

[9] Am 5, 21-24

 
 
 

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